SÃO PAULO (Reuters) – O dólar seguia em rota ascendente e saltava 1% ante o real na manhã desta sexta-feira, com a recuperação da divisa norte-americana no exterior se combinando a uma pressão cambial no Brasil ditada por receios em torno do agravamento da pandemia e de riscos fiscais.
O mercado vem de alta de 1% da véspera, que reverteu queda na mesma magnitude durante a manhã de quinta. A virada foi puxada pelo aumento dos temores fiscais no Brasil após declarações do candidato à presidência do Senado Rodrigo Pacheco (DEM-MG) –apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro– de que será preciso sacrifício de premissas econômicas para manter o socorro às famílias durante a pandemia.
O agravamento da crise sanitária em meio à percepção de desorganização no governo no que tange às vacinas e à condução geral da pandemia tem tido efeitos sobre a popularidade do presidente Bolsonaro e, por sua vez, alimentado temores no mercado de criação de mais despesas –o que ameaçaria o teto de gastos, visto pelo mercado como âncora fiscal do país.
Informações sobre endurecimento de restrições à mobilidade no Estado de São Paulo –que responde por um terço do PIB do Brasil– também geravam preocupação, sobretudo do lado dos impactos econômicos. Uma economia mais fraca tende a atrair menos investimentos e, com menos entradas de dólares, há mais pressão sobre o câmbio.
“O quadro sanitário não dá sinais claros de melhora enquanto o governo segue encontrando diversas barreiras para dar andamento à campanha de vacinação contra o coronavírus. Desta forma, o investidor deverá seguir avaliando de maneira cautelosa os desenvolvimentos em torno da campanha de imunização enquanto avalia os riscos de um novo atraso tanto na esfera social como na fiscal”, disse Victor Beyruti, economista da Guide.
A força do dólar no exterior também pesava sobre o câmbio nesta sexta. A moeda norte-americana subia pelo menos 1% ante peso chileno, rand sul-africano e peso mexicano, com dados econômicos globais apontando impactos do recrudescimento da pandemia em diversos países.
(Por José de Castro)